Operário da vinha do Senhor
Na próxima quinta-feira, dia 18 de agosto, o Papa Bento XVI chegará a Madri, para presidir a Jornada Mundial da Juventude. Espera-se um milhão e quinhentos mil jovens do mundo todo para esse acontecimento. Os mais de 14 mil jovens brasileiros que lá estarão farão a experiência antecipada pelo Salmista: “Oh! como é bom, como é agradável, os irmãos viverem juntos!” (Sl 133/132,1).
Volto ao tempo. Lembro-me do dia 19 de abril de 2005. Na Praça de S. Pedro, no Vaticano, fiéis do mundo inteiro estavam com os olhos fixos na pequena chaminé da Capela Sixtina. Quando apareceu a fumaça branca, todos explodiram num grito de alegria, na certeza de que o mundo tinha um novo papa. Os sinos da Basílica começaram a tocar. Pouco depois, o Cardeal Medina, do Chile, proclamou: “Habemus Papam” (Temos Papa!). Em seguida, anunciou o nome do sucessor de João Paulo II: Cardeal Joseph Ratzinger, que escolheu o nome de Bento XVI. Quando o novo Papa apareceu na sacada da Basílica, com um semblante sereno e tímido, e acenou para a imensa multidão, parecia pedir desculpas por estar ali. Disse, então, suas primeiras palavras como sucessor de Pedro: “Sou um humilde operário da vinha do Senhor!”
Nessa sua auto apresentação, estava sintetizado seu programa pastoral. O novo “operário da vinha do Senhor” sabia que não tinha nem o jeito de ser nem a popularidade de seu antecessor, o Papa João Paulo II, que demonstrara imensa capacidade de arrebatar multidões. Aos poucos, porém, Bento XVI passou a conquistar o mundo, justamente por sua simplicidade.
Grande teólogo e profundo conhecedor das responsabilidades e dos desafios da Igreja, nosso Papa tem a capacidade de apresentar as riquezas do Evangelho de forma simples e objetiva. Demonstrou isso já em sua primeira encíclica, “Deus caritas est” (Deus é amor). Essa expressão da Primeira Carta de S. João exprime, com singular clareza, o centro da fé cristã. O amor de Deus por nós é questão fundamental para a nossa vida e coloca questões decisivas sobre quem é Deus e quem somos nós.
Poucos meses depois de eleito, Bento XVI fez seu primeiro grande teste com os jovens, quando os encontrou em Colônia, na Jornada Mundial da Juventude. Ali, como depois em Sidnei, teve a coragem de lhes apontar elevados e exigentes ideais, na certeza de que só os conquistaria para Jesus Cristo se lhes falasse a verdade: “Os santos são os verdadeiros reformadores do mundo… Só dos santos, só de Deus provém a verdadeira revolução, a mudança decisiva do mundo… Não são as ideologias que salvam o mundo, mas unicamente a volta ao Deus vivo, que é o nosso criador, a garantia de nossa liberdade, a garantia daquilo que é realmente bom e verdadeiro… O que nos pode salvar a não ser o amor?… Não devemos construir para nós um Deus pessoal, um Jesus pessoal; somos chamados a crer e nos prostrar diante daquele Jesus que nos é mostrado pelas Sagradas Escrituras e que na grande procissão dos fiéis chamada Igreja se revela vivo, sempre conosco e, ao mesmo tempo, sempre diante de nós” (20.08.05).
Dia 29 de junho passado, depois de me impor o pálio – colar de lã que lembra o cuidado que o Arcebispo deve ter com as ovelhinhas de Jesus e a unidade que precisa manter com o sucessor de Pedro –, sabendo que eu sou Arcebispo de Salvador, disse-me, entre outras coisas: “Ah! Sucessor do Cardeal Majella e do Cardeal Lucas Neves!”. Julguei o momento adequado para lhe pedir: “Reze por minha Arquidiocese”. Com um sorriso, ele deu uma bênção especial para todo o nosso povo.
Nosso projeto de vida deve ser caminhar com a Igreja. Ora, o Bispo de Roma, sucessor de Pedro, tem na Igreja a missão de ser o princípio visível de unidade da fé e da comunhão. Estejamos, pois, atentos aos ensinamentos de Bento XVI na Espanha. Afinal, “a Igreja precisa de homens e mulheres cuja vida seja transformada pelo encontro com Jesus; homens e mulheres capazes de comunicar essa experiência aos outros. A Igreja precisa de santos. Todos somos chamados à santidade, e só os santos podem renovar a humanidade” (Bento XVI, 06.08.06).
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