1. "O Senhor assistiu-me e deu-me forças" (2 Tm 4, 17).
Assim São Paulo descreve a Timóteo a experiência que vivera na prisão romana. Todavia, estas palavras podem referir-se a todas as vicissitudes missionárias do Apóstolo das Gentes, assim como às de São Pedro. É o que confirma, na Liturgia do dia de hoje, o trecho dos Actos dos Apóstolos, que apresenta a prodigiosa libertação de Pedro da prisão de Herodes e de uma provável condenação à morte.
Portanto, a primeira e a segunda Leituras realçam o desígnio providencial de Deus para estes dois Apóstolos. É o próprio Senhor que os orientará para o cumprimento da sua missão, cumprimento este que terá lugar precisamente aqui em Roma, onde estes seus eleitos darão a vida por Ele, fecundando a Igreja com o seu próprio sangue.
2. "E tornaram-se amigos de Deus" (Antífona da entrada). Amigos de Deus! O termo "amigos" é mais eloquente do que nunca, se considerarmos que saiu da boca de Jesus, durante a última Ceia: "Não vos chamo mais servos disse Ele (...) chamo-vos amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi de meu Pai" (Jo 15, 15).
Pedro e Paulo são "amigos de Deus" de modo singular, porque beberam o cálice do Senhor. Jesusmudou o nome de ambos, no momento em que os chamou para o seu serviço: a Simão, deu o nome de Cefas, ou seja, "rocha", de onde derivou Pedro; a Saulo, deu o nome de Paulo, que significa "pequeno". O Prefácio do dia de hoje põe-nos em linha paralela: "Pedro, que foi o primeiro a confessar a fé em Cristo / Paulo, que iluminou as profundidades do mistério / o pescador da Galileia / que constituiu a primeira comunidade com os justos de Israel / o mestre e doutor, que anunciou a salvação a todas as gentes".
3. Bendito o Senhor que liberta os seus amigos" (Salmo responsorial). Se pensamos na vocação e na história pessoal dos Apóstolos Pedro e Paulo, observamos que a sua carga apostólica e missionária foi proporcional à profundidade da sua conversão. Provados pela triste experiência da miséria humana, foram libertados pelo Senhor.
Graças à humilhação da negação e ao choro abundante, que o purificou interiormente, Simão tornou-se Pedro, isto é, a "rocha": revigorado pela força do Espírito, por três vezes declarou a Jesus o seu amor, recebendo dele o mandato de apascentar o seu rebanho (cf. Jo 21, 15-17).
A experiência de Saulo foi semelhante: o Senhor que ele perseguia (cf. Act 9, 5) "chamou-o com a sua graça" (Gl 1, 15), iluminando-o no caminho de Damasco. Assim, libertou-o dos seus preconceitos, transformando-o radicalmente, e fez dele "um instrumento eleito" para anunciar o seu Nome a todas as gentes (cf. Act 9, 15). Deste modo, ambos foram "amigos de Deus".
A experiência de Saulo foi semelhante: o Senhor que ele perseguia (cf. Act 9, 5) "chamou-o com a sua graça" (Gl 1, 15), iluminando-o no caminho de Damasco. Assim, libertou-o dos seus preconceitos, transformando-o radicalmente, e fez dele "um instrumento eleito" para anunciar o seu Nome a todas as gentes (cf. Act 9, 15). Deste modo, ambos foram "amigos de Deus".
4. Caríssimos e venerados Irmãos Arcebispos Metropolitanos, vindos para receber o Pálio, diversas são as vicissitudes pessoais de cada um, mas todos vós fostes incluídos por Cristo no número dos seus "amigos".
No momento em que me preparo para vos impor esta tradicional insígnia litúrgica, de que vos revestireis nas celebrações solenes, em sinal de comunhão com a Sé Apostólica, convido-vos a considerá-la sempre como memória da sublime amizade de Cristo, que temos a honra de compartilhar. Em nome do Senhor tornai-vos, por vossa vez, "amigos" de quantos Deus vos confiou.
As vossas Sedes episcopais estão situadas em várias regiões da Terra: imitando o Bom Pastor, velai e cuidai de cada uma das vossas Comunidades. Transmiti-lhes também a minha saudação, juntamente com a certeza de que o Papa reza por todos e, de modo especial, por aqueles que são submetidos a duras provas e que encontram maiores dificuldades.
5. A alegria da festa de hoje torna-se ainda mais intensa, em virtude da presença da Delegação enviada, também neste ano, pelo Patriarca Ecuménico, Sua Santidade Bartolomeu I. Ela é chefiada pelo venerado Irmão, o Arcebispo da América, Demétrio. Estimados e venerados Irmãos, sede bem-vindos! Saúdo-vos em nome do Senhor e peço-vos que transmitais o meu abraço de paz ao dilecto Irmão em Cristo, o Patriarca Bartolomeu.
Com o passar do tempo, o intercâmbio recíproco de delegações, por ocasião da festa de Santo André em Constantinopla e pela solenidade dos Santos Pedro e Paulo em Roma, tornou-se um sinal eloquente do nosso compromisso em ordem à plena unidade.
O Senhor, que conhece as nossas debilidades e hesitações, promete-nos a sua ajuda para superar os obstáculos que impedem a concelebração da única Eucaristia. Por isso, venerados Irmãos, receber-vos e estar ao vosso lado neste solene encontro litúrgico torna mais sólida a esperança e dá forma concreta àquele anseio que nos impele rumo a plena comunhão.
6. "[Eles] edificaram a Igreja com diferentes dons" (Prefácio). Esta afirmação, referida aos Apóstolos Pedro e Paulo, parece pôr em evidência precisamente o compromisso de procurar a unidade com todos os esforços, respondendo ao convite que Jesus reiterou várias vezes no Cenáculo: "Ut unum sint!".
Como Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, renovo no dia de hoje, na sugestiva moldura desta festa, a minha plena disponibilidade a pôr a minha pessoa ao serviço da comunhão entre todos os discípulos de Cristo. Caríssimos Irmãos e Irmãs, ajudai-me com o apoio incessante da vossa oração. Invocai para mim a intercessão celestial de Maria, Mãe da Igreja e dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo.
Deus nos conceda cumprir a missão que Ele mesmo nos confiou, em plena fidelidade, até ao último dia, para formar no vínculo da sua caridade um só coração e uma só alma (cf. Oração após a Comunhão).
Amém!
Domingo, 29 de Junho de 2003. Homilia do Papa João Paulo II na Concelebração Eucarística da solenidade dos santos apóstolos Pedro e Paulo. Fonte: Site do Vaticano
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