Estandarte Eucarístico
Ano 1238 – Daroca (Espanha)
D. Jaime I iniciou sua campanha contra os mouros de Valência, a oportunidade era favorável uma vez que dois emires mouros lutavam entre si, porém era difícil devido a superioridade do exército do inimigo.
As populações de Daroca, Calatayud e Teruel alistaram tropas que se uniram às hostes do ilustre Conquistador. Começou-se a conquista pela vila de Burriana, construindo-se logo um sólido castelo, e D. Berenguer de Entenza e D. Guillén de Aguillón foram encarregados de defender esta fortaleza, a partir da qual, com os contingentes das três comunidades, não cessavam de atacar o inimigo.
Foram enviados quarenta mil soldados a pé, sem contar os montados a cavalo, para que entrassem e arrasassem. Saiu para enfrentá-los D. Jaime, com quatro mil combatentes de infantaria e quatrocentos cavalos, travando-se então um terrível combate, no qual os defensores da Cruz obtiveram uma gloriosa vitória. Segui-se esse triunfo a tomada da cidade de Valência, onde os valentes soldados de Daroca foram os primeiros a afixar a bandeira da Fé na Porta dos Serranos.
Prosseguindo a guerra, atacaram o castelo de Chio, magnífica praça-forte que possuíam os sarracenos. Mas estes, diante do perigo, fizeram sair suas hostes, que logo conseguiram cercar o acampamento dos cristãos, colocando-se na alternativa de entregar-se ou morrer.
Na aflição, o general católico arengou os seus, exortando-os com entusiasmo, a lutarem, a rezarem um ato de contrição e receberem os chefes a Sagrada Eucaristia. Imediatamente se dispôs o sacerdote, de nome Mateo Martinez, a celebrar o Santo Sacrifício, e logo depois da Consagração ressoaram os alaridos do ataque sobre os católicos, mas estes se levantaram, empunharam as armas, e ocorreu então o combate mais sangrento e prodigioso de toda a campanha.
O capelão consumiu a Hóstia do Sacrifício e a escondeu numa gruta, envolta nos Corporais, as Hóstias consagradas. A luta se generalizou e os cristãos aragoneses venceram.
Depois, o capelão a recolheu as sagradas Espécies, e ao abrir os Corporais, estando ajoelhados os cinco capitães com seu general para receber a Comunhão, observou com assombro que as Hóstias se tinham convertido em sangue...
Os heróis, cheios de respeito e emoção, se inclinaram, as lágrimas correndo pelas faces, quando viram o Sangue do Redentor, que o Céu lhes dava como prêmio de sua invencível fé. Extasiados soldados e capitães com dom tão precioso, esqueceram-se do combate e de que podia refazer-se o inimigo, quando de repente se viram novamente envoltos pelos sarracenos que desejavam vingar a afronta de sua derrota.
No momento de começar a peleja, o sacerdote que havia celebrado o Santo Sacrifício hasteou sobre um pau aquele bendito Corporal, e posto de pé o mostrou aos combatentes.
Brilhantes como os reflexos do sol e açoitado pelos ventos, ondeava flutuando no azul dos céus aquele estandarte maravilhoso, colorido com o preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo e despedindo de suas manchas avermelhadas raios de luz que infundiam terror e cegavam os mouros, ao mesmo tempo que davam ânimo aos cristãos. Desde o local do convento chamado de Corpus Christi até o castelo de Chio foi tão geral o escarmento, que fora os poucos que fugiram, não ficou nenhum mouro com vida.
Castelo |
Deve-se ao Santo Mistério, que ainda hoje se venera em Daroca, a completa reconquista de Aragão do domínio mouro.
A respeito da posse do santo estandarte, houve diversidade de opiniões. O general D. Berenguer pretendia que tão cobiçado tesouro ficasse em Valência, por ter ocorrido o prodígio em seu território. O capitão de Teruel o reclamava, porque suas tropas tinham sido as mais prejudicadas pelo inimigo; o de Calatayud, por ser o que maior contingente de soldados e bens dera para a guerra, e o de Daroca, por ser filho desta cidade o sacerdote que hasteou o santo estandarte.
Como todas as razões alegadas pareciam de muito peso, ninguém queria ceder o suposto direito; isso obrigou a que se lançassem sortes, e três vezes consecutivas elas foram favoráveis a Daroca.
De comum acordo, se combinou então, que fossem colocados os milagrosos Corporais num cofre precioso, sobre uma mula do exército inimigo, e que o animal o seguisse seu próprio instinto sendo cedidos os Corporais à comunidade em cujo território a mula fosse ter.
Fez-se conforme se havia determinado. Passando por Artiaza se realizou o milagre da cura de um endemoniado, e na divisa com Aragão outras muitas maravilhas e bondades pelos povoados por onde passava.
Entrou a mula em território aragonês seguindo em não interrompida carreira, sem comer nem beber, e depois de cinqüenta léguas de jornada chegou-se no dia 7 de março de 1239 a Daroca, em frente a Igreja de São Marcos, que mais tarde foi da Santíssima Trindade, e ali caiu de repente sem vida.
Logo se fundou em Daroca uma capelania para que todos os dias se rezasse a Missa do Santíssimo Sacramento, e ordenou que nos dias 7 de março se fizesse a cada ano uma solene procissão. Foi erigida fora da cidade uma torrezinha, para a qual eram levados os santos Corporais, que um sacerdote expunha ao numerosos fiéis.
Fazia já vinte e três anos que assim se celebrava a festa, e para mais autorizá-la enviaram embaixadores do Papa Urbano IV, a fim de impetrar graças e favores com que acrescentar mais e mais a devoção dos fiéis ao Santo Mistério.
Estavam os delegados em Roma, quando sucedeu o milagre de destilar sangue uma Hóstia consagrada em Bólsena (milagre do dia 26/06/11), e comovido o Sumo Pontífice por ambos os prodígios, e também por algumas revelações que os haviam precedido, instituiu em 1264 a festa de Corpus Christi, encomendando a São Tomás de Aquino que compusesse o ofício de tão solene festividade.
No átrio da igreja de Daroca, chamado dos Perdões, pelo qual entrou o Santo Mistério, costumava, oito dias antes da festa ou alguns depois, fixar-se um enxame de abelhas como sinal de que ali havia passado Jesus Cristo nosso Redentor.
Fonte: Milagres Eucarísticos, do Padre Manuel Traval y Roset S.J (adaptado)
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